Se os mares e oceanos foram historicamente lembrados como vias de grandes descobrimentos, por interligarem continentes e aproximarem povos, culturas e economias, hoje a única história que é lembrada quando o assunto é o oceano é a poluição. Da orla das praias até as profundezas do mar, o assunto é sempre o lixo, que tem se avolumado por anos e traz destruição e morte desse ecossistema. 

Essa poluição marinha vem sendo registrada, em todo o mundo, por governos, iniciativa privada, entidades e ONGs, pela imprensa, pela população costeira e por turistas. O que se descobriu em estudos recentes é que esses mesmos agentes e, pasme, também aqueles que estão mais longe da costa são responsáveis por essa poluição. Afinal, o rio corre para o mar.

Grande parte do lixo que chega aos mares vem do continente, seja pela falta de gestão de resíduos sólidos, com coleta e destinação adequadas, seja por meio de falta de saneamento básico e conscientização da sociedade, correspondendo a pontos fundamentais para o incremento do lixo nos oceanos.

Também foi constatado que a poluição do ambiente marinho é uma questão multissetorial. Existe a poluição visível, mas também, e não menos alarmante, há uma poluição que não se nota aos olhos, composta de esgoto doméstico, metabólicos medicamentosos, resíduos agrícolas, industriais e urbanos, entre outros. Em estudos realizados nas praias brasileiras, foram encontrados, por exemplo, itens como hastes flexíveis, aquelas que são usadas após o banho —em casa, e não nas praias—, o que reflete claramente o descarte inadequado e a ineficiência do tratamento de esgoto.

Esse cenário evidencia que não se podem combater canhões com bodoques. A questão é grave e só será resolvida com efetividade se todos os agentes — população, poder público e iniciativa privada — fizerem a sua parte. 

Isso vai desde questões estruturais, como a gestão do lixo urbano, que envolve a coleta seletiva, o encaminhamento para reciclagem, a capacitação de catadores, a valorização dos produtos reciclados e a gestão adequada dos não recicláveis. Outro ponto é o saneamento básico, que hoje é presente em menos de 30% das cidades brasileiras. 

Outro ponto fundamental é o da educação ambiental. É com informação, com bons exemplos, com iniciativas próximas ao dia a dia das pessoas que a mudança é potencializada. Quando a sociedade conhece os produtos disponíveis no mercado, pode fazer melhores escolhas sobre o consumo e o descarte, sem causar danos nem a sua saúde e nem à saúde do planeta. E quando o cidadão percebe que suas ações impactam o meio ambiente e que pequenas mudanças em seus hábitos podem resultar em economia e preservação da natureza, há uma mudança.

Com vistas a essa mudança, foi estabelecido no Brasil, em 2012, um convênio entre a iniciativa privada e a academia, que resultou no Fórum Setorial dos Plásticos - Por Um Mar Limpo, com o objetivo de articular a cadeia de valor dos plásticos para atuar junto a diversos setores da sociedade e propor ações para mitigar esse problema de grandeza mundial. 

Essa iniciativa, realizada em consonância com ações conduzidas pelo governo federal, por meio da Gerência Costeira da Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, tem se articulado nacional e internacionalmente em busca parceiros que queiram compor esse grupo multissetorial.

A questão dos resíduos nos oceanos é ampla. Porém, é necessário e urgente que as discussões se atentem ao que precede à estada daquele resíduo ali. A gestão dos resíduos e a atenção ao descarte são pontos cruciais nesse debate, para o qual queremos convidar todos os atores sociais que busquem um futuro mais limpo para nossos oceanos. 

 

Alexander Turra - Professor e pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP).

Miguel Bahiense - Presidente da Plastivida, instituto socioambiental dos plásticos